30 de junho de 2007

Coisas que não têm preço

Confesso que estava preparada para sofrer um goleada. Tanto que até resolvi não ver o jogo, decisão que ganhou mais força com a chegada do DVD de Shrek 3 aqui em casa (pirata, claro) e um incrível sono que me pegou no final da tarde. Por isso, fiquei extremamente feliz quando, ainda despertando, liguei a TV no Jornal Nacional e vi o relato da vitória com o gol solitário do Dininho.

CHUPA, Corinthians! Mesmo em crise e sem os nossos melhores jogadores, a gente ganha. CHUPA, de novo!

Voltando à realidade, não vou me iludir com esta vitória. O Palmeiras ainda conta com um sistema defensivo de enfartar qualquer um e o Valdívia faz muita, muita falta. Sem contar o ataque, que desperdiça vááááááárias oportunidades no velho problema da falta de um goleador.
Mas o problema mesmo, na minha opinião, está em outro lugar. De uma certa forma, tem a ver com a polêmica da semana, a homossexualidade (ou não) do Richarlyson. Enquanto boa parte da mídia se preocupou em saber detalhes sobre a vida particular dele, como se isso fizesse diferença na hora de jogar, não vi ninguém se atentar para o que a frase do Cyrillo realmente revela.

Para quem não vive este planeta e não sabe o que está acontecendo, saiu uma história na semana passada de que um jogador de um clube paulista estava querendo revelar no "Fantástico" que era gay. Questionado no programa do Milton Neves se tal atleta era do Palmeiras, o vice-presidente do Verdão, José Cyrillo Júnior respondeu: "Não, o Richarlyson quase foi do Palmeiras. O procurador dele assinou um pré-contrato com o Palmeiras, mas no dia seguinte ele foi para o São Paulo". Aí se iniciou todo um bafafá, com pedidos de desculpas, ameaça de processo, etc...

Aliás, me rendeu muiras risadas a declaração do Kalil Rocha Abdalla, do departamento jurídico do São Paulo. "O São Paulo não foi ofendido, então não pode fazer nada. Quem pode entrar com alguma ação é o atleta, que teria sido ofendido, atacado. Agora eu acho que, se alguém acusa alguém, tem de ter provas. Se eu falo que alguém é homossexual e essa pessoa se ofende, eu preciso provar. Agora, como provar, isso eu não sei. Cabe a ele [Cyrillo Jr.] provar". Primeiro: ser gay é uma ofensa? Segundo: como provar que o Richarlyson é gay? Colocando um go go boy para dançar na frente dele, enquanto os batimentos do coração são medidos?

Para arrematar, a mãe do jogador, dona Maria de Lourdes, solta essa pérola: "Meu filho não tem esse problema. Eu sei que ele não tem. Ele não precisa mostrar nada para ninguém. Eu sei que ele não é. Ele é um menino muito amável". Sem entrar no mérito do "menino amável", é no mínimo tão idiota quanto as declarações do Cyrillo, ela ter deixado claro que considera a homossexulidade um problema...

Mas voltando ao motivo deste post. Em sua declaração no programa do Milton Neves, Cyrillo mesmo que sem querer admitiu a incompetência do Palmeiras em contratar bons atletas. O caso do Richarlyson não foi o primeiro e muito menos o último "chapéu" que o Verdão tomou de outros clubes. Já perdemos Ilsinho, Kléber, Éverton... só para citar alguns. Ao invés de ficar se preocupando com a orientação sexual alheia, dirigentes do Palmeiras deviam se concentrar em montar um time decente para ser campeão de novo. E alguns jornalistas esportivos em trabalhar de verdade, porque ninguém merece mais Márcia Goldsmiths por aí...

2 comentários:

Anônimo disse...

Só podia mesmo ter sido no programa do Milton Neves... E o Juca escreveu um belo artigo sobre isso na Folha. Quase tão bom quanto esse seu post.

O preconceito racial, social e sexual no Brasil é deprimente. Estamos mesmo na Idade da Pedra.

Yuri disse...

Eu acho que a mãe do Richarlyson é que é gay. Onde já se viu botar esse nome no filho? Deuzolivre.

Eu ia dizer que o Cyrillo também pode ser gay, mas como ele gostava da Maria Joaquina... (quem mandou postar coisas futebolísticas?)