É com 24 horas de atraso que venho ter a astúcia de fazer uma breve análise do desfile da Mangueira, ocorrida na madrugada desta segunda-feira de Carnaval. Gostei do que vi, mas sinceramente acho que não vai dar para levar a taça, não. E olha que eu nem vi a Viradouro, aquele que estão todos falando que foi a escola mais fodástica da noite.
Para começar - eu não sei se isso foi culpa da Globo que cortou ou se, de fato, não houve mesmo -, faltou o tradicional grito de guerra, que Jamelão (ah, Jamelão...) há anos canta antes do desfile, com todas as bandeirinhas já tremulando pela Sapucaí: “Chegoôôôôôôôôô ô ô, a Mangueira chegoôôôôôôôôô ô”. Isso por si só já diminuiu um pouco a empolgação, mas devo dizer que Luizito e os outros intérpretes exerceram muito bem a sua função na ausência do mestre.
A comissão de frente, como sempre, estava de arrasar. Carlinhos (ou Coisinha?) de Jesus mais uma vez deu um show de competência com os atores se alternando entre a figura de Camões e de uma portuguesa, enquanto mostravam mensagens para o público (aliás, foi um show a forma como eles trocavam corretamente as letras que formavam as palavras).
O tema, assim como o samba-enredo, também era excelente. Até agora estou com o refrão na cabeça: "Vem no vira da Mangueira, vem sambar/Meu idioma tem o dom de transformar/Faz do Palácio do Samba, uma casa portuguesa/ É uma casa portuguesa, com certeza". As alegorias também estavam mui belas e a harmonia da escola empolgou: todos estavam felizes a animados na avenida. A bateria também resolveu arriscar com rápidas paradinhas e movimentações que dificilmente são vistas na escola e se deu muito bem.
Por outro lado, achei que deveria haver mais alas dedicadas aos escritores. Eu pelo menos não vi nada que se referisse ao Guimarães Rosa, por exemplo, mas pode ter sido distração. A Preta Gil bem que se esforçou e foi bem simpática, mas seria melhor substituída por uma menina da comunidade. E, claro, o vexame da noite com a proibição de Beth Carvalho em desfilar. A justificativa da escola foi que ela não havia combinado em subir em um carro e que não há improvisações de última hora, mas acho que por ser quem é e principalmente por representar o que representa para a agremiação, uma exceção poderia ter sido aberta.
Enfim, foi um desfile 9,5. Agora é só aguardar a apuração, o ponto alto do Carnaval. Amanhã cedo (hoje, na verdade), será conhecida a campeã de São Paulo. Como boa palmeirense, torço para a Mancha e acho uma sacanagem inventarem aquele tal de grupo esportivo. Mesmo com poucos recursos, a escola mostrou um grande entusiasmo e fez uma bela apresentação, principalmente com toda a teatralidade mostrada - fantástica a abertura da bateria de dêmonios verdes e vermelhos para a passagem de Viviane Araújo em um andor como a besta (!) e depois para as baianas, que representavam a paz. Pena que exista tapetão até no Carnaval.