Fooooiiiii por medo de avião*.... (parte 2)
Quando você finalmente chega à conclusão que o avião não vai cair (não ao menos na decolagem), é a hora de curtir. Afinal, não é só porque você está cheia de náuseas, com as mãos suadas e morrendo de medo que você não vai admirar a cidade bem pequenininha lá em baixo, uma praia qualquer ao longe... e, claro, o lanchinho da companhia aérea. Aliás, esta foi uma surpresa muito boa, até porque depois de horripilantes relatos da comida da Gol, só tenho a elogiar a Varig neste aspecto - além disto, os funcionários da companhia em todo momento se mostraram corteses e simpáticos, especialmente na hora de fazer a engraçada coreografia do cinto de segurança, de como destravar os bancos para eles flutuarem na água e outra coisas do gênero.
Fico pensando que deve ser muito chato você estudar pra caramba até ser aeromoça e todo santo dia ter que repetir aquila dança algumas vezes. Pior: sem que 90% dos passageiros olhem na sua cara. Então,
O problema de ir ao Rio de Janeiro é que a viagem é muito curta. Mal recolhem o lanchinho e os procedimentos de pouso já estão sendo efetuados. Desta vez, porém, estava mais tranquila, pois me distrai brincado de Google Earth real ao tentar localizar alguns pontos turísticos. Achei o Cristo (fácil) e o Maracanã (u-hu!), além de ter ficado abismada com o fato de praticamente todos os morros da cidade (e não são poucos) terem uma favela - sem contar que casas/prédios com piscinas ficam a poucos metros de barracos.
Sobre o Rio, infelizmente não posso falar muito, pois o meu destino era no Centro -, vulgo não muito longe do Santos Dumont. Óbvio que peguei o táxi amarelo-e-azul e fiquei cantarolando baixinho qualquer música bossa nova em referência à cidade, além de conversar com o simpático taxista que me falava a respeito de alguns prédios históricos da região e de os prédios onde boa parte das decisões econômicas importantes do país são tomadas (Petrobras, BNDES, Caixa...).
Feito o que havia de ser feito ainda deu tempo de colecionar algumas impressões do Rio. Primeira: o centro da cidade é bem parecido com o centro de São Paulo, seja em suas coisas boas ou ruins - exceto talvez pela presença ostensiva do Metrô por aqui. Segunda: destruindo todos os mitos possíveis e imagináveis, ninguém lá ostenta um climão informal durante uma segunda-feira. Todos andam relativamente arrumados e apressados de um lado para o outro, exatamente como os paulistas. Terceiro: os cariocas que me perdooem, mas o sotaque deles é muito, muito chato, apesar de ótimo para imitar. Quarto: não, você não vai sair do aeroporto/rodoviária e já ser assaltado/quase atingido por uma bala perdida. Quinto: o trânsito é absurdamente caótico, mas os lugares não são tão longes quanto na terra do Borba Gato.
De volta ao aeroporto, depois de sem querer bater a porta do táxi em qualquer coisa de concreto na rua - e quase ser morta por isso, possivelmente sendo salva de uma visita não-planejada a qualquer morro apenas porque o carro tinha um rastreador da cooperativa (ou por que será o motorista mal me dirigiu a palavra durante o trajeto?), foi a hora de passar por novas estréias aeroportuárias. Pela primeira vez eu fui trocar uma passagem: afinal eram 17h30, meu vôo só saía às 19h00 (sem atrasos) e, com um laptop na mochila, não é muito prudente andar pelo anoitecer carioca (sou paulista, mas não sou otária).
Até reparei que estavam chamando um vôo para Congonhas bem naquela hora, mas só depois fui percebi que essa era a minha última chance se eu quisesse antecipar a volta - o vôo das 18h20 da Varig para Congonhas havia sido cancelado e até hoje eu não faço a menor idéia se é possível você descolar uma vaga em outra companhia. Então, fiz minha estréia correndo como uma louca por um aeroporto desconhecido para pegar um avião.
O legal é que mal entrei no avião e a imaginação voltou a funcionar. Afinal, eu poderia ser tema dos jornais da terça: se aquele avião caísse, eu seria a pessoa-que-não-era-pra-estar-naquele-vôo-mas-o-destino-quis-assim. Se fosse o seguinte que se espatifasse, eu seria aquele personagem clássico que-era-pra-estar-no-vôo-mas-o-destino-não-quis-assim. Do alto, a bela vista do Rio à noite (ainda volto lá com tempo), deu uma distraída e uma certa depressão: como, nos últimos 50 anos, conseguiram cagar um lugar tão bacana como aquele?
Deixando filosofias baratas de lado, o problema do Brasil é que como já aconteceram todos os tipos de acidentes aéreos (decolagem, ar e pouso) você nunca fica tranquilo e logo acha que um Legacy ou um padre maluco podem interceptar sua aeronave. Porém, há sempre com o que se distrair, especialmente quando você senta em um dos primeiros bancos e acompanha de perto todo o trabalho dos comissários - o que rende reações do tipo ficar tenso ao ver a chefe das comissárias atender o "telefonema" do comandante, fazer uma mega cara de séria como se o avião tivessem em pane e depois responder: "Tá, mas o seu café é com leite ou sem?". Deve ser sacanagem, caso pensado com certeza.
Mas minha força mental se vingou, só que atingiu o funcionário errado. Na hora do pouso, a chefe foi puxar o banquinho especial que eles sentam, deixou-o escapar e o outro carinha - que não olhou para sentar - quase protagonizou a melhor videocassetada vista por mim in loco nos últimos tempos. Para terminar (ufa), descer em Congonhas é sempre uma emoção à parte, especialmente quando o piloto tem um estilo um pouco mais brusco e a revista ao seu lado acaba indo parar lá na frente. E assim terminou tudo.
Dá medo, mas no final esse negócio de andar de avião é muito divertido.
Uma boa noite, obrigado por escolher o Nossa, Canossa! e até a próxima viagem.
*Homenagem a Belchior