A ideia inicial era aproveitar as férias para ir ao
Acre tomar
Guaraná Jesus e conhecer os Lençóis Maranhanses. Mas pesquisa dali, pesquisa de cá, a Internet dizia que em abril pouco chovia por lá e haveria grande chance de eu caminhar três horas pela areia, debaixo de um sol infernal para me deparar com uma pocinha.
Detalhe que o Maranhão está debaixo d'água, mas ok, eu ainda confio no Google.
A segunda opção então era Fernando de Noronha. Entretanto, pacotes na faixa de quatro mil reais por cabeça por uma semaninha não animaram o meu bolso de jornalista. Cidades grandes como Fortaleza e Recife também estavam fora de cogitação. Era preciso um lugar diferente.
Eis que, fuçando o site da CVC, surgiu Aracaju. Por que não o Sergipe? Eu não tinha a menor noção do que encontraria por lá, mas pelo menos uma coisa estava certa: eu voltaria com novidades, seria quase uma desbravadora, afinal boa parte dos turistas (exceto o
Cazavia) que escolhem o Nordeste fazem questão de ignorar "o menor estado da federação", como os próprios sergipanos se definem.
Pausa para um rápido comentário: eu não ouvia a palavra "federação" sem estar vinculada a esporte desde as aulas de Estudos Sociais, na terceira série do Ensino Fundamental.
Voltemos: vale a pena. Estou escrevendo um texto (gigantesco!) para dar minhas impressões aos interessados no estado e na cidade. Por enquanto, posso dizer que foi uma viagem engraçada desde o início: assim que eu e minha mãe sentamos no avião, conhecemos o Seo Joaquim, um típico exemplar de pessoa que definimos como "interativa".
Sergipano, advogado criminalista, advogado trabalhista, procurador, morador do Maranhão por mais de 15 anos, pai de cinco filhos homens, etc, etc... a figura já tinha contado metade da vida dele antes que o avião sequer tivesse levantado voo de Cumbica.
Disse que estava em São Paulo para aconselhar um cliente em um caso de assassinato (desconfio que o tal cliente era o assassino), que havia se hospedado naquele hotel chique ao lado do aeroporto e o que o filho, cuja mulher está com câncer, foi lá almoçar com ele. A conta deu mais de mil reais. U-hu!
Como se não bastasse, passou a dar em cima da minha mãe descaradamente. Saiu-se com esta: "Você é muito parecida com a minha finada mãe"... para segundos depois completar: "Ela foi a mulher mais linda que eu já conheci". Que beleza!
Depois, quando minha mãe tinha ido ao banheiro, disse que ela devia ser "uma tradicionalista, uma conservadora filha de um pecuarista" só porque ela havia comentado que era mineira e não se arrependia em nenhum momento de ter casado com o meu pai. Claro, acertou tudinho. Só precisa avisar meu avô onde estão as cabeças de gado...
Por mais que tentássemos ler, o seo Joaquim sempre dava um jeito de cutucar nossos braços para iniciar um novo assunto. Falha nossa não saber naquele dia que era possível solicitar fones de ouvido à aeromoça (pobres que nunca anda de avião é assim...) . Seriam de grande utilidade.
Comentários ainda sobre o dia que a polícia de Aracaju havia pedido dois mil reais para matar o suspeito de ter assaltado o filho-médico-que-estudou-em-São-Paulo (ele não aceitou porque, segundo o filho, "era um negrinho mirradinho e não esse gori..., esse negão") e sobre as varizes vaginais que fizeram a mãe dele morrer (sim, chegou nesse nível).
Três horas depois, demos graças a Deus por termos o encontrado em um voo para Aracaju e não para Fortaleza ou Miami. Juro que até outras pessoas no voo vieram nos cumprimentar depois pela nossa paciência com o homem. Já desembarcamos com os pecados perdoados.
As fotos, se alguém tiver curiosidade de ver, estão
aqui.