9 de novembro de 2008

Interlagos, dia 2, 3 e 4

A demora em continuar a saga de Interlagos se deu por apenas um motivo: resolvi só voltar a escrever depois que a batata da perna de uma japonês se curasse, o que comprovaria que a minha fúria já estava aplacada.

"Como assim?", alguém deve estar se perguntando.

Bom, primeiro vamos por uma dica essencial na cobertura: para evitar descer do saltinho, nunca, mas nunca tente entrevistar um emergente astro inglês quase amarelão e agora campeão de Fórmula 1 depois de um milhão de anos de jejum no país dele. Sim, porque a chance de você se ver envolta e esmagada por milhares de cinegrafistas, fotógrafos e o que quer que seja é de 150%.

Mas eu não tenho o costume de obdecer as minhas próprias dicas. Para piorar, como o inglês campeão ficou fora do pódio na corrida, a master-organizada Federação Internacional de Automobilismo não o convocou para subir até a sala de coletivas, a despeito de ele ser o mais jovem e o primeiro afro-saxão (esse termo existe?) a ganhar o título.

Em resumo, a zona de jornalistas internacionais estava formada.

Eu, pensando que era esperta, me posicionei de modo a ficar quase cara a cara com o Hamilton onde eu imaginei que ele daria entrevista. Mas eis que o nosso amiguinho (shit!) resolveu mudar de local - foi basicamente para frente de onde era antes (shit, shit!) - e, como diriam os meus avós, eu perdi o bonde no meio da manada.

Tentando me equilibrar, primeiro tomei na cara, quase no olho, o suporte de uma lente de longa distância de um fotógrafo gringo. A estupidez do ser foi tamanha que na hora a Mariana Becker, da Globo, se prontificou a se indignar e perguntar se estava tudo bem e tal, com mais algumas pessoas que eu não lembro que eram. Estava sim, nem foi tão forte e quase nem doeu (de verdade).

Fato é que eu resolvi não me vingar naquela hora. Afinal, não ficaria bem eu dar uma de louca descontrolada na frente de um monte de coleguinhas brasileiros. Passou-se então mais um tempo e a muvuca se moveu naqueles mesmos metros quadrados e as pessoas se misturaram entre si. Foi aí que apareceu um fotográfo japonês tentando se enfiar lá no meio, me empurrando com toda a grosseria do universo.

Pausa para falar que eu entendo o trabalho dos lambe-lambes, que eles precisam da imagem para não serem demitidos e tal, mas um mínimo de educação é essencial, não? Fim da pausa.

Sem ninguém conhecido por perto eu, já extremamente puta da vida, pensei: "Ah, dessa vez não passa". Coloquei em prática meus conhecimento de jornalismo-taekwondo.

Ciente de que eu não consigo dar uns chutes tão altos quanto o da Natália Falavigna, me contentei em mirar bem a batata da perna do japa, colocar toda a minha força no pé direito e desferir um belo de um chute. Na hora, o cara estava tão envolto na adrenalina que continuou a bater fotos (do Hamilton, não minha). Sei também que a minha força não é das maiores, especialmente agora que estou há meses sem nem passar na frente da academia, mas tenho absoluta certeza que ele encarou vinte e tantas horas de vôo de volta com a perna bem inchada. Deve estar melhorando agora, uma semana depois de desferido o golpe.

É óbvio que alguém deve estar se perguntando o porquê de tal atitude. Antes de tudo, não eu não sou psicopata louca que sai batendo nos outros - apesar de ter vontade, nunca posta em prática, de dar umas voadoras em certos usuários do Metrô. Talvez eu sejá só um pouco esquentadinha.

Mas é que eu já estava realmente irritada. Primeiro porque a Lei de Murphy resolve agir sempre e a nova tecnologia de acesso à Internet disponibilizada pela empresa simplesmente era mais lenta que conexão discada. Tudo bem, se eu não trabalhasse para um SITE. Depois porque por mais bem-feito que seja o lanchinho da sala de imprensa do autódromo, no quarto dia seu intestino passa simplesmente a recusá-lo (é, é quase isso o que vocês estão pensado).

Trabalhar mais de dez horas no próprio dia e nos seis anteriores não é problema quando você gosta do que faz (ainda mais quando você tem a oportunidade de vivenciar in loco um momento da história do esporte). Mas ter o puta azar de chover justamente no dia que você tem que ficar parada na frente dos boxes da Renault porque o Nelsinho rodou na primeira curva é realmente foda. Ainda mais porque ele nem falou e todo o seu trabalho de sentir in loco a meteorologia de Interlagos foi para o saco.

Ah, tem o resultado. Sim, foi muito interessante ver todo aquele autódromo explodindo de alegria e depois broxando com o êxito e queda do Massa, inclsuive os boxes da maioria das equipes. Nessa hora eu já nem sabia mais de nada e o que me salvou mesmo foi o radinho a pilha de 9,90 que eu levei para lá.

Só que... querem saber? Voltei morta, mas foi muito, muito divertido vivenciar o tal do gramour da profissão - aliás, eu até apareço do vídeo oficial do GP do Brasil (um doce para quem me achar).

Enfim, só agradeço a bênção de ter pensado antes em pedir para o pessoal da redação escrever anota da corrida (senão eu tinha enloquecido mesmo). E ainda bem que eu não tinha feito chapinha.