21 de agosto de 2008

Pataquadas olímpicas. Ah, a imprensa.

Voltando para dar o ouro das pataquadas de nem sei mais quando e também a tempo de defender o Cielo.

A pataquada que eu não consegui escrevi anteontem, simplesmente porque estva cansada demais para escrever qualquer coisa, é para a imprensa. Você quer cometer suicídio? E sem parecer que foi suicídio? Então, aqui vai a dica: infiltre-se no meio de um monte de repórteres, câmeras e fotógrafos enlouquecidos porque o cara que conquistou a medalha de ouro filha única do Brasil nas Olimpíadas está chegando em Cumbica.

É foda, porque foi se mata durante um ciclo olímpico inteiro para tentar estar bem preparada para conversar com os atletas, fazer uma análise mais ou menos realista e no final, por conta de um bando de imbecis, é taxada de "jornalista" do modo mais pejorativo possível. Tudo por conta de um bando de imbecis.
Voltando a Cumbica, quando eu cheguei lá na manhã de quinta-feira vi mais imprensa esperando o Cielo que (imagino) se o Bin Laden tivesse desembarcando. Com a experiência de já ter feito desembarques anteriores, já fico a distância suficiente para garantir minha integridade física e poder falar com os atletas depois, quando as TVs já pegaram seus 30 segundos necessários de aspas com o entrevistado.

A TV, aliás, é um caso a parte. Mal a pessoa aparece no saguão e ela já é atacada por dezenas de câmeras enlouquecidas, como se aquela fosse uma oportunidade única e exclusiva de se conversar - depois, o atleta vai sair correndo e enfiar a cabeça na primeira turbina de avião que aparecer, devem pensar. Ah, e tentem ficar com um centímetro na frente de um deles? Capaz de tomar um soco que vai te deixar em coma para o resto da vida. Sério.

Mas no caso do Cielo isso nem aconteceu, visto que a segurança do aeroporto se antecipou e, prevendo a zona, reservou uma sala em um restaurante para que ele conversasse calmamente com todos. Calmamente não passou de mera hipótese, devo dizer.

Isso porque quando o Cielo apareceu, totalmente zonzo pela viagem de 30 horas, fuso horário invertido e depois de comer uma comida decente escondido na cozinha do restaurante, todos zoaram nele, como se ele pudesse dar sua última declaração antes de morrer - e quem ouvisse primeiro, ficaria com o próximo prêmio da Mega Sena.

Isso tudo é patético, visto que o cara estava ali justamente para falar com todos. Ninguém conseguiu nada fodástico e nem comseguiria óbvio. Me apertei daqui, cavei um espaço ali e consegui ficar em um canto atrás da mesa de coletiva, que foi ficando cada vez mais cheia com a chegada da Gabriella Silva e do Kaio Marcio (que pegaram finais em Pequim, embora sem medalhas), além do Thiago Pereira - pausa para falar do constrangimento do cara, totalmente relegado ao 262o plano. Só uma pergunta foi dirigida a ele, que 15 dias atrás era o queridinho do Brasil. Em resumo, em um mês ele virou um bosta.

Aí, começa a coletiva. Como estava na hora do Globo Esporte, pediram para entrar ao vivo. Ok, ok, tudo bem. Uma pergunta sobre o avô que morreu e ele ficou sabendo só no Brasil, outra obre algo que não me lembro mais e pronto. No retorno, uma repórter toca no assunto do avô para dar até um enfoque interessante na história (se ele achava que influenciaria o resultado final. E o Cesar disse que sim) e a menina foi praticamente vaiada. Falta total de respeito.

Pergunta vai, pergunta vem, uma colocação imbecil sobre se ele tinha tirado o atraso dom mulheres (para que isso?) e, antes de um novo questionamento, quase sai uma briga na sala, com tanta gente querendo falar ao mesmo tempo. "Vamos parar com a assembléia aí", alguém da organização gritou. Tudo muito estressante, muito cansativo até para mim, que tinha dormido na noite anterior. Ah, e eu esqueci de dizer que o vôo dele havia atrasado em umas duas horas.

Na hora em que acabou e o Cielo tentou sair da sala parecia que aquela seria a última imagem em vida do cara. Vários fotógrafos e câmeras se jogaram em cima dele e quase quebraram tudo de novo literalmente. A toalha da mesa por pouco não foi ao chão. Até perguntei ao Pilatos, fotógrafo da GE e um dos poucos que não tinha se enfiado na muvuca, qual a utilidade daquilo, visto que não daria para aproveitar uma imagem daquele momento - e não deu mesmo ou eu não vi os jornais direito.

Um rápido pit stop para acrescentar também a história do pai da Fabiana Murer, que conversou
com a Marta, outra repórter da GE, no mesmo aeroporto, mas no dia seguinte: segundo ele, a Globo queria fazer o tal link para falar com o Galvão e, de tanta trabalheira que isso deu, ele sequer conseguir ver a prova. Sem contar que ele tinha preparado um café da manhã PARA A FAMÍLIA e os jornalistas atacaram a comida como se tivessem vivendo no meio da Somália há 30 anos. Sem nem pedir licença.

Voltando ao assunto Cielo, ainda não tinha acabado para ele. Tudo porque alguém teve a brilhante idéia de ele fazer uma carreata por São Paulo em cima de um carro de Bombeiros debaixo de um sol a pino. Eu questiono a utilidade dessas coisas porque ninguém fica feliz: nem o cara, que a essa altura estava morto de cansaço (e ainda eram 13h30), nem a imprensa que tem que trabalhar mais por uma coisa patética, nem as pessoas que são obrigadas a enfrentar um trânsito ainda mais congestionado porque uma medalhinha de ouro neste país é um feito histórico (imagina se os EUA e a China fizessem o mesmo? Coitado de quem visse sua casa pegando fogo em época de Olimpíada...).

Depois de tudo isso - e olha que eu nem fui ao Pinheiros, destino final do Cielo (momentos que você pode acompanhar no blog da Amanda, que também fez algo de muito ruim na encarnação passada para ser enviada a esta pauta), eu já estava extremamente cansada e puta da vida, ainda mais porque pegamos um trânsito considerável na volta, o que já está virando comum em São Paulo. É por isso que eu não condeno o Cielo nem dar tchauzinho para as vizinhas em Santa Bárbara: se fosse eu, já teria mandado todo mundo para aquele lugar muuuuittto antes.

É por isso também que eu cada vez fico mais triste de ser jornalista: porque quando nos xingam, muita gente está com toda a razão. Eu e muitos que conheço ainda tenatamos nos esforçar para fazer um trabalho bacana, mas de que tudo isso adianta se chega um idiota e fode tudo de uma vez?

Ainda é por isso que eu não torço para mais nenhuma medalha de ouro do Brasil nem nenhuma
bizarrice ao estilo vara sumida. Ok, vou dar uma força para os vôleis (chupa, Venturini!), mas só porque são 12 que chegam de uma vez.

Quer saber mais momentos vergonhosos da imprensa? Clique aqui e vá até o tópico "Top Five totalmente sem noção, do dia 20).

7 comentários:

Victor Bianchin disse...

Jornalista vive de amolar os outros pedindo informações sobre coisas que não sabe, não entende e/ou não tem autoridade para falar a respeito. É natural que nos odeiem =P

Mas foder com a vida dos outros (especialmente a do coitado que conseguiu a proeza de ganhar uma medalha de ouro), realmente, é de uma pobreza de espírito extrema.

Pena que o Cielo é bonzinho. Queria ver algum medalhista perdendo a paciência com jornalista, mandando o Galvão tomar no cu ao vivo, essas coisas...

Anônimo disse...

Ô, raça!

:-D

Anônimo disse...

Seria ótimo se um bom volume de espectadores tivessem acesso a estas informações de bastidores e, conscientemente, questionassem estas práticas todas e interferissem diretamente em suas reputações. Mas enfim.

Anônimo disse...

belissimo post... rs... Acho que vc ganhou mais um leitor... rs... Estou adorando a cobertura olímpica... rs

Anônimo disse...

Caríssima Carolina, concordo com vc, mas um tchauzinho amigo pras tias, rolava neah?

Por falar em bestialidades, quem interessar, dá uma olhada no blog dessas pessoas.

http://www.eunaotenhonome.com.br/olimpiadas2008/blog/olimpiadas2008



o POST "A INVEJA É UMA M. MESMO!!!" DÁ MUITA VERGONHA ALHEIA!

Anônimo disse...

Pô, nenhum post sobre a fantástica vitória da Maurren por 1cm?

É verdade que ela é meio mala mesmo?

Ah, não quero nem saber... Fiquei muito feliz com a medalha de ouro, principalmente por tudo o que ela passou de 2003 pra cá. Enfim, uma não-amarelada brasileira em Pequim!

:)

Anônimo disse...

Okay, agora entendi a malisse do Cielo.

Mas mesmo assim, acho que ele tinha que ser mais simpático com os imbecis que se estapeiam pra tirar uma foto dele, afinal, esses 15 minutos de fama vão acabar uma hora ou outra!