3 de junho de 2008

Por um fio

Em certo momento da minha vida eu também quis ser médica. Até estava disposta a ficar mofando um milhão de anos no cursinho, mas tive sensatez suficiente para perceber que, com minha cabeça de vento, era melhor errar uma ou outra reportagem que (eufemismo on) mandar alguém para o outro plano (eufemismo off).

Mas tem gente que não pensa como eu.

Há alguns dias, minha avó está internada no Hospital do Servidor sob a justificativa de que esta era a melhor forma de se realizar uma série de exames de rotina - eles demorariam anos para serem feitos se dependessem somente da boa vontade da marcação de consultas pelo método tradicional.

Pois bem, acabaram por descobrir algo na barriga dela, Deus-sabe-lá-o-que, porque aí já é pedir demais para os médicos do SUS. Aparentemente não era tão grave, mas seria necessário um exame mais detalhado para enfim descobrir-se exatamente do que se trata.

Enquanto isso, ela ficava hospedada no hotel, com alguns indultos a cada determinado período de tempo. Para se comunicar com a família, até tinha autorização para dar uma escapadinha fora do hospital e ir até o orelhão.

Pois ontem chega um médico no quarto e diz que a equipe médica havia optado por operá-la de uma vez, pois de uma cajadada só saberia-se o que era e já iniciaria-se o tratamento. Ah, tá, achei estranho, mas como eu não fiz curso de açogueira, deixei quieto.

Aí que hoje à tarde meu pai me liga e conta que não houve operação nenhuma, pois já na sala de cirurgia uma boa alma resolveu fazer as contagens das plaquetas da minha avó. Descobriu que elas estavam abaixo do normal, o que em outras palavras significa que, se ela fosse para a mesa, provavelmente não iria sobreviver.

Sim, ela quase morreu à toa. E eu espero que ninguém que eu goste nunca mais dependa de certos "doutores".

6 comentários:

Thá disse...

Está tudo bem, Carol? O SUS, assim como o ensino público, me causam nojo... Tenho motivos mais do que suficientes isso!

... agora dizem que falta investimento na Saúde por causa do fim da CPMF (mas quem disse que antes, com aqueles milhões por ano, tínhamos médicos e hospitais de qualidade?). A solução, de acordo com eles é a CSS...

Eu, sinceramente, não acredito que um novo imposto transformará o nosso sistema de saúde. O buraco é bem mais fundo. Que o diga a sua avó, né?

Anônimo disse...

Ah, se o problema fosse a CPMF ou a CSS... Estaria ótimo! Pena que não é. Aliás, sem a CPMF, o governo arrecedou MAIS do que com ela! E a Saúde continua uma vergonha. Humpf.

Ainda bem que o anjinho da guarda (como diz a minha avó) estava bem pertinho da sua, né?

Brasil, il, il.

Anônimo disse...

Ops: "arrecedou", não! "Arrecadou", claro.


;)

Anônimo disse...

MEU DEUS!!!!!

Tem horas que a gente duvida que as pessoas possam esquecer de fazer coisas simples (ou que deviam ser). E elas se esquecem.

Será que ninguém se lembra que há uma vida em mãos? Será que tem aulas de estupidez, prepotência e arrogância na faculdade de medicina?

Eu é que não quero ver meus amigos que fazem medicina pensando assim, que podem determinar quem vive e quem não vive.

Carolina Maria, a Canossa disse...

Thá e Fábio -O pior é que é verdade. Os não-sei-quantos-milhões que eles vão continuar a tirar do nosso bolso não vão resolver nada mesmo - mas na rede particular, a coisa não melhora muito. Segundo uma reportagem da "Época" sobre morte na gravidez, há umas duas semanas, os profissionais de hospital público são melhores que a média. O problema é quando o SUS paga rede particular. Bom, o caso da minha avó foi o primeiro, de forma que o o jeito é contar com a sorte mesmo. Em tempo: ela ainda está no esquema vai-volta do hospital, mas bem.

Mané - Nada a acrescentar, meu caro. Você disse tudo.

Unknown disse...

Puisé... Eu sou um candidato a açougueiro bastante preocupado com essa situação. E não falo isso para defender uma suposta reputação da classe médica.
Fato é que, nas faculdades de medicina (pelo menos nas que merecem alguma referência), ensina-se quase tudo que é necessário para lidar com saúde e vidas humanas. Notem que a diferença entre 'tudo' e 'quase tudo', embora possa parecer sutil, muitas vezes causa falhas grosseiras. Além disso, há componentes no caráter de um bom médico - ou de qualquer pessoa decente, independente da profissão - que nenhum curso é capaz de moldar.
Lamentável mesmo...